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sexta-feira, 8 de março de 2013

As Riquezas da Injustiça

"Como se explica a expressão 'Granjeai amigos com as *riquezas da injustiça', da parábola do mordomo infiel, de Lucas 16.1-12?" 

Esse versículo é sem dúvida, de difícil interpretação. Há pontos que não serão es­clarecidos antes que venha o Senhor pela segunda vez. É natural, que um livro como a Bíblia, escrita por inspiração, contenha coisas difíceis de compreender. O defei­to, contudo, não está no livro, mas em nos­so limitado entendimento. Se não aprendemos outra coisa nesta parábola, ao me­nos, sejamos humildes. Devemos possuir, antes de tudo, muito cuidado, para não deduzirmos do versículo citado, dou­trinas e preceitos que ele não ensina.

Em primeiro lugar, queremos salientar que o nosso Senhor não se refere ao mordo­mo como um modelo de probidade; de ou­tro modo, não lhe teria dado o epíteto de "mau". Jesus nunca autorizou a falta de honradez no comércio humano. Jesus não louva a atitude corrupta do administrador em procurar ser o "número um", mas sua habilidade e inteligência em perseguir o seu alvo que era equivocado. O mordo­mo de que tratamos enganou o seu senhor, e quebrou, assim, o oitavo mandamento. Seu amo ficou admirado da astúcia do seu servidor, quando lhe chegou ao conheci­mento o que lhe havia feito, e louvou-o pela sua sagacidade e previsão. Porém, isso nada prova que o seu proceder lhe agradasse, e, de fato, não há uma palavra que indique a aprovação do Senhor Jesus, pois, com o vocábulo "amo" ou "senhor", a parábola não denota o Senhor Jesus, mas o amo do malfeitor. De fato, sob o ponto de vista moral cristão, o modo como agiu o mordomo não pode, de forma alguma, ser imitado por nós.

A advertência feita nesse caso é muito necessária. A má fé nos negócios é, desgra­çadamente, muito comum em nossos dias. A honradez nos contratos é coisa rara. Em transações comerciais muitos praticam atos que a Bíblia condena. Milhares de pessoas há que, para depressa ficarem ri­cas, cometem faltas que ofendem a equida­de: Pv 28:28. A astúcia, a destreza em comprar, a habilidade e esperteza em ven­der e realizar negócios de toda natureza, fazem passar despercebidas coisas que se não deveriam permitir. A classe a que per­tencia o mordomo infiel é, contudo, nume­rosa.

Não nos esqueçamos disto: sempre que fizermos aos outros aquilo que não deseja­mos que nos façam, podemos estar certos de que procedemos mal aos olhos de Cris­to. Observa-se a lição principal que se nos prodigaliza nesta parábola: é prudente estarmos prevenidos para qualquer contra­tempo.

O modo como se portou o mordomo in­fiel, quando soube que seria prejudicado seu futuro, foi, indubitavelmente, hábil e sagaz. O diminuir partes das contas do que devia ao seu senhor, era um ato de má fé, mas, sem dúvida, com ele adquiriu muitos amigos. Pervertido como era, não desprezou o futuro. Desonestas como eram as providências que tomou, não deixava, contudo, o mau servidor de atender às suas próprias necessidades. Não cruzou os braços, nem deixou que a pobreza fechasse as portas de sua casa, porém meditou, raciocinou, fez seus cálculos e pô-los em execução, sem receio algum. O resultado viu-se: não ficou desamparado.

Que contraste surpreendente observa­mos entre o proceder do mordomo infiel em referência aos interesses temporais e a maior parte dos homens a respeito das questões espirituais! É sob este ponto de vista, unicamente, que o mordomo infiel nos dá exemplo que devemos imitar. Como ele, é mister que cuidemos do nosso porvir. Como ele, é necessário que nos previnamos para o dia em que deixarmos a morada ter­rena para entrarmos na celestial; como ele, temos de construir "um edifício nos céus", onde fixaremos o nosso lugar, quando se desfizer o tabernáculo terrestre do nosso corpo: II Co 5:1. Realmente, é necessário empregar todos os meios válidos ao nosso alcance, para obtermos a morada celestial.

Sob este aspecto, a parábola é altamen­te instrutiva. A solicitude que os homens do mundo manifestam pelos interesses dessa vida, deverá provocar vergonha aos cristãos por sua frieza muitas vezes mani­festada para com as coisas eternas. Percebe-se que as pessoas do mundo são mais criativas em alcançar seus alvos do que aqueles que servem a Deus o são para perseguir aquilo que Deus estabelece para eles. Jesus não pede aos seus seguidores que usem os recursos do mundo de uma forma ímpia, mas com fins nobres, para que seus amigos, O Pai e o próprio Jesus, o Filho, possam recebê-los nos no lar eterno (v.9), assim como o administrador poderia esperar que seus novos "amigos" o recebessem em suas casas neste mundo.

O zelo e a constância de que os homens negocistas dão provas, quando percorrem mar e terra para granjearem riquezas, são uma natural reprovação da indiferença e indolência que patenteiam muitos crentes a respeito dos tesouros celestiais. As pala­vras do Senhor são verdadeiramente profundas e solenes: "... os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz", Lc 16.8.

Nosso Senhor nos ensina, com essas pa­lavras, a sermos escrupulosos, fiéis em tu­do, e nos previne a não pensarmos que o procedimento, em assuntos pecuniários, de conformidade com o mordomo infiel, seja coisa insignificante. Jesus quer que não nos esqueçamos de que o modo como o homem procede em relação ao "muito pou­co", dará uma prova de sua índole e que a injustiça "no muito pouco" é grave sinto­ma do mau estado em que se encontra o co­ração. Sem dúvida, não nos dá a entender, nem por sombra, que a honradez em ques­tões pecuniárias pode tornar justas as nos­sas almas ou purificá-las dos nossos peca­dos, porém, ensina-nos, clara e positiva­mente, que a má fé nas transações é sinal de que o coração não é reto aos olhos de Deus.

O ensino que o Senhor nos dá há de me­recer consideração muito séria nos tempos que correm. Parece que existem pessoas que se persuadem da possibilidade de di­vorciar a religião verdadeira da honradez comum, e que se alguém é ortodoxo na doutrina, pouco importa que na prática use a trapaça ou o engano. As palavras de nosso Mestre são, de fato, um protesto so­lene contra essa perniciosa idéia. Destarte, devemos velar para não cairmos em seme­lhante erro. Defendamos com energia as doutrinas gloriosas da salvação pela graça e da justificação pela fé, porém, longe de nós supor que a verdadeira religião autori­za, de alguma forma, o menosprezo da se­gunda tábua da Lei. Não nos esqueçamos, nem por momentos, de que a verdadeira fé se conhece por seus frutos. Estejamos cer­tos de que quem não é honrado, não possui a graça divina.

Por outro lado o leitor deve entender que essa parábola não foi dirigida aos escribas e fariseus, mas aos discípulos. Estes ouviram a lição que Jesus dera aos hipócri­tas, ouviram falar de um homem que malbaratou seu dinheiro e também de outro que havia empregado a má fé. Em sua pre­sença, tinha-se descrito com cores vivas o pecado da libertinagem; era coerente que se lhes oferecesse agora um quadro de uma falta menos chocante - a da fraude e enga­no.

Finalmente, podemos dizer ao leitor que pelo menos três são, a nosso ver, as lições contidas nesta parábola:

• É prudente estarmos preparados para o futuro.

• É importante fazer bom uso do di­nheiro.

• É ideal usar as posses para servir às pessoas, porque somos apenas administradores de tudo o que Deus possui.

• Temos de ser fiéis, mesmo nas coisas menores.

*Literalmente: As riquezas do injusto Mammon - (riquezas ou opulências).

Bibliografia:
A Bíblia Responde. 2ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1983.
STERN, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento: Ed. Belo Horizonte: Editora Atos, 2008.
KEENER, Craig S. Comentário Bíblico Atos. Novo Testamento: 1ª ed. Belo Horizonte: Editora Atos, 2004.

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