"Fujam da idolatria" (1Co 10.14)
19º Capítulo do livro “Nós desatados”, versão de 1878, escrito por
John Charles Ryle
Clérigo e Bispo da Igreja da Inglaterra
À primeira vista pode parecer que o texto que encabeça esta página não seja necessário *em nossos dias. Numa época de educação e inteligência como a nossa, quase podemos chegar à conclusão de que é perda de tempo dizer a um contemporâneo nosso que "fuja da idolatria".
Atrevo-me a dizer que pensar assim seria um grande erro. Creio que vivemos num tempo em que a questão da idolatria encontra-se bem perto de nós, ao nosso redor e mesmo entre nós. Em poucas palavras, o segundo mandamento está sendo transgredido. Sem mais preâmbulos, proponho que consideremos os seguintes quatro pontos:
I. Definição de idolatria. O que é?
II. A causa da idolatria. De onde provém?
III. A forma que a idolatria adota na Igreja visível de Cristo. Onde está?
IV. A abolição definitiva da idolatria. O que acabará com ela?
Creio que a questão está cercada de dificuldades. Nossa sorte está lançada numa época em que a Verdade está constantemente em perigo de ser sacrificada no altar de uma suposta tolerância, de um suposto amor, de uma suposta paz. Contudo, estou certo de que a verdade sobre a idolatria é a mesma em todas as épocas, em todos os tempos.
I. Permitam-me, em primeiro lugar, oferecer uma definição de idolatria, e mostrar-lhes o que a idolatria é.
Compreender isso é da maior importância. Nessa questão há muitas indefinições e confusões, como só acontece em assuntos religiosos. O cristão que não deseja errar continuamente em sua jornada espiritual precisa ter uma rota bem sinalizada em sua mente, com definições claras.
Afirmo, portanto, que a idolatria é a adoração em que a honra que somente Deus merece e somente a Ele deve ser rendida é entregue a Suas criaturas ou a invenções de Suas criaturas. A idolatria tem várias faces. Pode adotar uma infinidade de formas segundo o grau de ignorância ou de conhecimento. Pode ser obviamente absurda e ridícula ou pode aproximar-se bastante da Verdade e admitir as defesas mais apaixonadas. Mas, seja na adoração a um deus hindu ou na adoração à hóstia na basílica de São Pedro em Roma, o princípio da idolatria é o mesmo. Em ambos os casos, a honra que somente Deus merece é tirada d'Ele e entregue a algo que não é Deus. E onde quer que isso aconteça, seja num templo pagão ou em igrejas que professam ser cristãs, acontece um ato de idolatria.
Este é um pecado que Deus censurou especialmente em Sua Palavra. Um dos Dez Mandamentos está dedicado à sua proibição. Nem um só deles contém uma declaração tão solene da natureza de Deus e de Seus juízos contra os desobedientes: "Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o SENHOR, o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam" (Ex 20.5). Talvez nenhum outro mandamento seja tão enfatizado quanto este, especialmente no capítulo 4 de Deuteronômio.
Esse é o pecado que os judeus parecem ter sido mais propensos a cometer antes da destruição do Templo de Salomão. O que é a história de Israel sob seus juízes e reis, senão a triste repetição de inúmeras quedas na idolatria? Uma e outra vez lemos sobre os "lugares altos" e seus falsos deuses. Uma e outra vez lemos da recaída no velho pecado. Parece que o amor aos ídolos fazia parte da carne e do sangue dos israelitas. Em outras palavras, o pecado dominante da Igreja do Antigo Testamento era a idolatria. Israel desviava-se constantemente para os ídolos e adorava a obra de mãos humanas.
Esse é o pecado, dentre todos os demais, que tem acarretado os juízos mais severos de Deus sobre a Igreja visível. Trouxe sobre Israel os exércitos do Egito, Síria, Assíria e Babilônia. Dispersou as dez tribos, queimou Jerusalém e levou Judá e Benjamim ao cativeiro. Em tempos posteriores trouxe sobre as igrejas orientais a avalanche da invasão sarracena e transformou muitos jardins espirituais em desertos. A desolação que hoje reina onde outrora pregaram Cipriano e Agostinho, a morte em vida na qual estão presas as igrejas da Ásia Menor e da Síria, tudo isso é consequência desse pecado. Todas as coisas testificam da mesma grande verdade que proclama nosso Senhor em Isaías: "Eu sou o SENHOR; este é o meu nome! Não darei a outro a minha glória nem a imagens o meu louvor" (Is 42.8).
Precisamos entender o fenômeno da idolatria se quisermos manter pura a Igreja de Cristo. Não foi em vão que o Apóstolo Paulo nos deu esta ordem: "Fujam da idolatria".
II. Em segundo lugar, permitam-me mostrar a causa da idolatria. De onde ela provém?
Para o homem que tem uma ideia exagerada sobre o intelecto humano e a razão, a idolatria pode parecer uma coisa absurda. Pode pensar que a idolatria é irracional demais para pôr alguém em perigo, exceto, talvez, mentes muito débeis. Para alguém que vê o Cristianismo de modo superficial, o perigo da idolatria pode parecer muito pequeno. "Mesmo que quebrem muitos mandamentos" - dizem - "os cristãos não são susceptíveis de cair no engano da idolatria".
Bem, pensar desse modo demonstra um lamentável desconhecimento da natureza humana. Há raízes secretas de idolatria no interior de todos nós. A presença marcante da idolatria em todas as épocas entre os
pagãos e as advertências dos ministros protestantes contra a idolatria comprovam cabalmente isso. A causa de toda a idolatria é a corrupção natural do coração do homem. Essa grande enfermidade congênita com a qual todos os filhos de Adão nascem infectados se manifesta de muitas e variadas formas. Da mesma fonte de onde saem "os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a calúnia, a arrogância e a insensatez" (Mc. 7:21-22) surgem também as falsas ideias sobre Deus e as falsas ideias sobre adoração; e quando o Apóstolo Paulo fala aos gálatas sobre as "obras da carne" (Gl 5:20), coloca a idolatria em lugar de destaque entre elas.
O homem terá sempre algum tipo de religião. Deus não ficou sem testemunho entre nós. Como velhas inscrições soterradas sob montanhas de escombros, como escritos quase apagados em antigos palimpsestos[1], há algo gravado tenuamente no fundo do coração humano, algo que nos faz sentir que deve haver alguma religião e algum tipo de culto. A prova disso pode ser encontrada ao redor de todo o planeta. O homem sempre terá alguma forma de culto. Então entram em jogo os efeitos da Queda. O desconhecimento de Deus, os conceitos carnais e vis a respeito da natureza e dos atributos divinos, ideias mundanas e sensuais a respeito do culto que é aceitável para a Divindade, tudo isso caracteriza a religião do homem natural. Há um desejo em sua mente de ver, sentir e tocar a Divindade. Quer trazer Deus ao seu próprio nível degradado. Não tem a mínima ideia sobre a religião do coração, da fé e do espírito. Em resumo, deseja viver com Deus ao mesmo tempo em que vive de forma corrompida e caída.
Peregrino, 2003, pp. 132-157. Traduzido do espanhol.
Original em Inglês: Idolatry , 19ºcapítulo do livro “Knots Untieds”
Tradução do blog “Calvinismo Hoje”,
por Fábio Vaz dos Santos
http://www.alegrem-se.blogspot.com.br/2012/04/idolatria.html
Divulgação
Projeto Ryle – Anunciando a verdade Evangélica.
http://bisporyle.blogspot.com
[1] palimpsestos: s.m. Manuscrito em pergaminho que, após ser raspado e polido, era novamente aproveitado para a escrita de outros textos (prática usual na Idade Média). (Modernamente, a técnica tem permitido restaurar os primitivos caracteres.)
Atrevo-me a dizer que pensar assim seria um grande erro. Creio que vivemos num tempo em que a questão da idolatria encontra-se bem perto de nós, ao nosso redor e mesmo entre nós. Em poucas palavras, o segundo mandamento está sendo transgredido. Sem mais preâmbulos, proponho que consideremos os seguintes quatro pontos:
I. Definição de idolatria. O que é?
II. A causa da idolatria. De onde provém?
III. A forma que a idolatria adota na Igreja visível de Cristo. Onde está?
IV. A abolição definitiva da idolatria. O que acabará com ela?
Creio que a questão está cercada de dificuldades. Nossa sorte está lançada numa época em que a Verdade está constantemente em perigo de ser sacrificada no altar de uma suposta tolerância, de um suposto amor, de uma suposta paz. Contudo, estou certo de que a verdade sobre a idolatria é a mesma em todas as épocas, em todos os tempos.
I. Permitam-me, em primeiro lugar, oferecer uma definição de idolatria, e mostrar-lhes o que a idolatria é.
Compreender isso é da maior importância. Nessa questão há muitas indefinições e confusões, como só acontece em assuntos religiosos. O cristão que não deseja errar continuamente em sua jornada espiritual precisa ter uma rota bem sinalizada em sua mente, com definições claras.
Afirmo, portanto, que a idolatria é a adoração em que a honra que somente Deus merece e somente a Ele deve ser rendida é entregue a Suas criaturas ou a invenções de Suas criaturas. A idolatria tem várias faces. Pode adotar uma infinidade de formas segundo o grau de ignorância ou de conhecimento. Pode ser obviamente absurda e ridícula ou pode aproximar-se bastante da Verdade e admitir as defesas mais apaixonadas. Mas, seja na adoração a um deus hindu ou na adoração à hóstia na basílica de São Pedro em Roma, o princípio da idolatria é o mesmo. Em ambos os casos, a honra que somente Deus merece é tirada d'Ele e entregue a algo que não é Deus. E onde quer que isso aconteça, seja num templo pagão ou em igrejas que professam ser cristãs, acontece um ato de idolatria.
Não é preciso que um homem rejeite formalmente a Deus e a Cristo para ser um idólatra. Longe disso. É perfeitamente compatível professar reverência ao Deus da Bíblia e ao mesmo tempo praticar a idolatria. Os filhos de Israel nunca pensaram em renunciar a Deus quando persuadiram Aarão para que fizesse um bezerro de ouro. "Estes são teus deuses [Elohim] que te tiraram da terra do Egito", disseram. E a festa em honra ao bezerro foi chamada de "festa dedicada a Yahweh" (Ex 32.4,5).
Jeroboão, por exemplo, jamais pretendeu pedir às dez tribos que abandonassem sua lealdade ao Deus de Davi e Salomão. Quando ergueu os bezerros de ouro em Dã e Betel, disse: "Vocês já subiram muito a Jerusalém. Aqui estão os seus deuses [seus Elohim], ó Israel, que tiraram vocês do Egito" (1Rs 12.28). Devemos observar que em nenhum desses casos um ídolo foi erigido no lugar de Deus, mas sim como uma "ajuda", uma "escada" para cultuar a Deus. Mas em ambos os casos um grande pecado foi cometido. A honra devida unicamente a Deus foi entregue a uma representação de Deus. A majestade e a glória de Yahweh foram ofendidas. O segundo mandamento foi quebrado. Aos olhos de Deus houve um flagrante ato de idolatria.
É tempo de tirarmos de nossas mentes ideias vagas sobre idolatria tão comuns em nossa época. Não devemos pensar, como fazem muitos, que somente há dois tipos de idolatria: a idolatria espiritual do homem que ama a sua esposa, seu filho ou seu dinheiro mais do que ama a Deus e a crassa e aberta idolatria do homem que se inclina diante de uma imagem de madeira, metal ou pedra porque não conhece outra coisa.
Sem dúvida, a idolatria é um pecado que ocupa um espaço muito maior do que isso. Não é meramente algo que ocorre na Índia e de que ouvimos falar em reuniões missionárias, nem é algo que se limita a nossos corações e que podemos confessar, de joelhos, diante do Trono da Graça. Idolatria é uma enfermidade que assola a Igreja de Cristo muito mais do que se imagina. É um mal que, como o homem do pecado, se assenta no santuário de Deus (II Ts 2:4). É um pecado que todos precisamos vigiar e contra o qual todos devemos orar constantemente. Ele se desliza em nossa adoração de forma quase imperceptível, e, de repente, cai sobre nós. Quão terríveis são as palavras que Isaías dirigiu não ao adorador de Baal, mas ao judeu frequentador do Templo: "Mas aquele que sacrifica um boi é como quem mata um homem; aquele que sacrifica um cordeiro, é como quem quebra o pescoço de um cachorro; aquele que faz oferta de cereal é como quem apresenta sangue de porco, e aquele que queima incenso memorial, é como quem adora um ídolo. Eles escolheram os seus caminhos, e suas almas têm prazer em suas práticas detestáveis" (Is 66.3).
Jeroboão, por exemplo, jamais pretendeu pedir às dez tribos que abandonassem sua lealdade ao Deus de Davi e Salomão. Quando ergueu os bezerros de ouro em Dã e Betel, disse: "Vocês já subiram muito a Jerusalém. Aqui estão os seus deuses [seus Elohim], ó Israel, que tiraram vocês do Egito" (1Rs 12.28). Devemos observar que em nenhum desses casos um ídolo foi erigido no lugar de Deus, mas sim como uma "ajuda", uma "escada" para cultuar a Deus. Mas em ambos os casos um grande pecado foi cometido. A honra devida unicamente a Deus foi entregue a uma representação de Deus. A majestade e a glória de Yahweh foram ofendidas. O segundo mandamento foi quebrado. Aos olhos de Deus houve um flagrante ato de idolatria.
É tempo de tirarmos de nossas mentes ideias vagas sobre idolatria tão comuns em nossa época. Não devemos pensar, como fazem muitos, que somente há dois tipos de idolatria: a idolatria espiritual do homem que ama a sua esposa, seu filho ou seu dinheiro mais do que ama a Deus e a crassa e aberta idolatria do homem que se inclina diante de uma imagem de madeira, metal ou pedra porque não conhece outra coisa.
Sem dúvida, a idolatria é um pecado que ocupa um espaço muito maior do que isso. Não é meramente algo que ocorre na Índia e de que ouvimos falar em reuniões missionárias, nem é algo que se limita a nossos corações e que podemos confessar, de joelhos, diante do Trono da Graça. Idolatria é uma enfermidade que assola a Igreja de Cristo muito mais do que se imagina. É um mal que, como o homem do pecado, se assenta no santuário de Deus (II Ts 2:4). É um pecado que todos precisamos vigiar e contra o qual todos devemos orar constantemente. Ele se desliza em nossa adoração de forma quase imperceptível, e, de repente, cai sobre nós. Quão terríveis são as palavras que Isaías dirigiu não ao adorador de Baal, mas ao judeu frequentador do Templo: "Mas aquele que sacrifica um boi é como quem mata um homem; aquele que sacrifica um cordeiro, é como quem quebra o pescoço de um cachorro; aquele que faz oferta de cereal é como quem apresenta sangue de porco, e aquele que queima incenso memorial, é como quem adora um ídolo. Eles escolheram os seus caminhos, e suas almas têm prazer em suas práticas detestáveis" (Is 66.3).
Este é um pecado que Deus censurou especialmente em Sua Palavra. Um dos Dez Mandamentos está dedicado à sua proibição. Nem um só deles contém uma declaração tão solene da natureza de Deus e de Seus juízos contra os desobedientes: "Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o SENHOR, o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam" (Ex 20.5). Talvez nenhum outro mandamento seja tão enfatizado quanto este, especialmente no capítulo 4 de Deuteronômio.
Esse é o pecado que os judeus parecem ter sido mais propensos a cometer antes da destruição do Templo de Salomão. O que é a história de Israel sob seus juízes e reis, senão a triste repetição de inúmeras quedas na idolatria? Uma e outra vez lemos sobre os "lugares altos" e seus falsos deuses. Uma e outra vez lemos da recaída no velho pecado. Parece que o amor aos ídolos fazia parte da carne e do sangue dos israelitas. Em outras palavras, o pecado dominante da Igreja do Antigo Testamento era a idolatria. Israel desviava-se constantemente para os ídolos e adorava a obra de mãos humanas.
Esse é o pecado, dentre todos os demais, que tem acarretado os juízos mais severos de Deus sobre a Igreja visível. Trouxe sobre Israel os exércitos do Egito, Síria, Assíria e Babilônia. Dispersou as dez tribos, queimou Jerusalém e levou Judá e Benjamim ao cativeiro. Em tempos posteriores trouxe sobre as igrejas orientais a avalanche da invasão sarracena e transformou muitos jardins espirituais em desertos. A desolação que hoje reina onde outrora pregaram Cipriano e Agostinho, a morte em vida na qual estão presas as igrejas da Ásia Menor e da Síria, tudo isso é consequência desse pecado. Todas as coisas testificam da mesma grande verdade que proclama nosso Senhor em Isaías: "Eu sou o SENHOR; este é o meu nome! Não darei a outro a minha glória nem a imagens o meu louvor" (Is 42.8).
Precisamos entender o fenômeno da idolatria se quisermos manter pura a Igreja de Cristo. Não foi em vão que o Apóstolo Paulo nos deu esta ordem: "Fujam da idolatria".
II. Em segundo lugar, permitam-me mostrar a causa da idolatria. De onde ela provém?
Para o homem que tem uma ideia exagerada sobre o intelecto humano e a razão, a idolatria pode parecer uma coisa absurda. Pode pensar que a idolatria é irracional demais para pôr alguém em perigo, exceto, talvez, mentes muito débeis. Para alguém que vê o Cristianismo de modo superficial, o perigo da idolatria pode parecer muito pequeno. "Mesmo que quebrem muitos mandamentos" - dizem - "os cristãos não são susceptíveis de cair no engano da idolatria".
Bem, pensar desse modo demonstra um lamentável desconhecimento da natureza humana. Há raízes secretas de idolatria no interior de todos nós. A presença marcante da idolatria em todas as épocas entre os
pagãos e as advertências dos ministros protestantes contra a idolatria comprovam cabalmente isso. A causa de toda a idolatria é a corrupção natural do coração do homem. Essa grande enfermidade congênita com a qual todos os filhos de Adão nascem infectados se manifesta de muitas e variadas formas. Da mesma fonte de onde saem "os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a calúnia, a arrogância e a insensatez" (Mc. 7:21-22) surgem também as falsas ideias sobre Deus e as falsas ideias sobre adoração; e quando o Apóstolo Paulo fala aos gálatas sobre as "obras da carne" (Gl 5:20), coloca a idolatria em lugar de destaque entre elas.
O homem terá sempre algum tipo de religião. Deus não ficou sem testemunho entre nós. Como velhas inscrições soterradas sob montanhas de escombros, como escritos quase apagados em antigos palimpsestos[1], há algo gravado tenuamente no fundo do coração humano, algo que nos faz sentir que deve haver alguma religião e algum tipo de culto. A prova disso pode ser encontrada ao redor de todo o planeta. O homem sempre terá alguma forma de culto. Então entram em jogo os efeitos da Queda. O desconhecimento de Deus, os conceitos carnais e vis a respeito da natureza e dos atributos divinos, ideias mundanas e sensuais a respeito do culto que é aceitável para a Divindade, tudo isso caracteriza a religião do homem natural. Há um desejo em sua mente de ver, sentir e tocar a Divindade. Quer trazer Deus ao seu próprio nível degradado. Não tem a mínima ideia sobre a religião do coração, da fé e do espírito. Em resumo, deseja viver com Deus ao mesmo tempo em que vive de forma corrompida e caída.
Até ser renovado pelo Espírito Santo, o homem sempre prestará um culto distorcido. A idolatria, portanto, é um produto do coração caído do homem. É uma erva daninha que, como terra sem cultivo, o coração está sempre disposto a produzir. Nos surpreendemos ao ler sobre a idolatria de Israel, a Igreja do Antigo Testamento, a adoração a Baal, Moloque, Quemos e Aserá; os lugares altos e os postes-ídolo; as imagens de madeira, e tudo isso à luz da lei mosaica?
Não deveríamos nos surpreender. Há uma explicação. Há uma causa. Nos surpreendemos ao ler sobre como a idolatria se infiltrou gradualmente na Igreja de Cristo, como pouco a pouco foi substituindo o verdadeiro Evangelho, até que os homens chegaram a preferir o altar da Virgem Maria ao de Jesus Cristo?
Deixemos de nos surpreender; é compreensível. Há uma causa. Nos surpreende ouvir falar de homens que abandonam o protestantismo e voltam para a Igreja de Roma? Pensamos que é inexplicável e cremos que nós mesmos jamais poderíamos abandonar a verdadeira adoração pela do papa? Não deveríamos ficar surpresos. Há uma causa.
Essa causa é a corrupção do coração humano. Há uma propensão e uma tendência natural em todos nós de oferecer a Deus uma adoração carnal, sensual, e não a que Ele ordena em Sua Palavra. Estamos sempre dispostos, devido a nossa preguiça e incredulidade, a inventar ajudas visíveis e atalhos em nossa aproximação a Deus. De fato, a idolatria é fácil, é como ir ladeira abaixo, num caminho amplo e espaçoso. A adoração genuína, por outro lado, é como remar contra a corrente. Qualquer outra forma de adoração é mais agradável para o coração corrompido do ser humano do que aquela descrita por nosso Senhor:
"Em espírito e em verdade" (Jo 4.23).
Particularmente não fico surpreso com a amplitude de idolatria que existe tanto no mundo quanto na Igreja visível. Creio que é perfeitamente factível que vivamos para ver muito mais do que poderíamos imaginar, nesse quesito. Não ficaria surpreso se surgisse algum poderoso Anticristo pessoal antes do fim, poderoso intelectualmente, poderoso em talentos para o governo, sim, e poderoso, talvez, até mesmo em sinais milagrosos. Não ficaria surpreso em ver alguém assim levantando-se contra Cristo e comandando uma conspiração contra o Evangelho. E estou certo de que muitos se deleitariam em honrar semelhante Personagem. Creio que muitos o tratariam como um deus, o reverenciariam como a encarnação da Verdade e o cultuariam como um grande herói. É uma possibilidade.
Mas de uma coisa estou certo: nenhum homem está a salvo da idolatria, mesmo os que afirmam desprezar qualquer religião; e a incredulidade e o ateísmo estão a um passo da mais crassa idolatria. Não pensemos,
pois, que estamos imunes à idolatria. "Aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!" (I Co 10:12). Faremos bem em examinar nossos próprios corações: o germe da idolatria está aí. Lembremos as palavras de Paulo: "Fujam da idolatria".
Essa causa é a corrupção do coração humano. Há uma propensão e uma tendência natural em todos nós de oferecer a Deus uma adoração carnal, sensual, e não a que Ele ordena em Sua Palavra. Estamos sempre dispostos, devido a nossa preguiça e incredulidade, a inventar ajudas visíveis e atalhos em nossa aproximação a Deus. De fato, a idolatria é fácil, é como ir ladeira abaixo, num caminho amplo e espaçoso. A adoração genuína, por outro lado, é como remar contra a corrente. Qualquer outra forma de adoração é mais agradável para o coração corrompido do ser humano do que aquela descrita por nosso Senhor:
"Em espírito e em verdade" (Jo 4.23).
Particularmente não fico surpreso com a amplitude de idolatria que existe tanto no mundo quanto na Igreja visível. Creio que é perfeitamente factível que vivamos para ver muito mais do que poderíamos imaginar, nesse quesito. Não ficaria surpreso se surgisse algum poderoso Anticristo pessoal antes do fim, poderoso intelectualmente, poderoso em talentos para o governo, sim, e poderoso, talvez, até mesmo em sinais milagrosos. Não ficaria surpreso em ver alguém assim levantando-se contra Cristo e comandando uma conspiração contra o Evangelho. E estou certo de que muitos se deleitariam em honrar semelhante Personagem. Creio que muitos o tratariam como um deus, o reverenciariam como a encarnação da Verdade e o cultuariam como um grande herói. É uma possibilidade.
Mas de uma coisa estou certo: nenhum homem está a salvo da idolatria, mesmo os que afirmam desprezar qualquer religião; e a incredulidade e o ateísmo estão a um passo da mais crassa idolatria. Não pensemos,
pois, que estamos imunes à idolatria. "Aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!" (I Co 10:12). Faremos bem em examinar nossos próprios corações: o germe da idolatria está aí. Lembremos as palavras de Paulo: "Fujam da idolatria".
Os pontos III e IV serão apresentados em uma segunda postagem
Fonte:
Traduzido de "Advertencias a las Iglesias". Moral de Calatrava (Ciudad Real):Peregrino, 2003, pp. 132-157. Traduzido do espanhol.
Original em Inglês: Idolatry , 19ºcapítulo do livro “Knots Untieds”
Tradução do blog “Calvinismo Hoje”,
por Fábio Vaz dos Santos
http://www.alegrem-se.blogspot.com.br/2012/04/idolatria.html
Divulgação
Projeto Ryle – Anunciando a verdade Evangélica.
http://bisporyle.blogspot.com
[1] palimpsestos: s.m. Manuscrito em pergaminho que, após ser raspado e polido, era novamente aproveitado para a escrita de outros textos (prática usual na Idade Média). (Modernamente, a técnica tem permitido restaurar os primitivos caracteres.)
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