João 3:1-15
Um dos textos bíblicos mais falados e pregados do Evangelho de João é este que trata do encontro de dois grandes homens, Jesus e Nicodemos. O primeiro, grande no contexto de Deus; o segundo, grande no contexto dos homens de sua época. Jesus, era, é e sempre há de ser Deus Verdadeiro e a Vida eterna, o Salvador (I Jo. 5:20).
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"Necessário vos é nascer de novo" |
Esta história nos conta a respeito do encontro de Nicodemos com Jesus. O texto nos mostra que Nicodemos mesmo sendo um profundo conhecedor das Sagradas Escrituras, da Lei e dos profetas, não era um participante da nova vida, do novo nascimento gerado pelo Espírito de Deus, ou seja, seu conhecimento profundo das Escrituras judaicas (leia-se A.T.), sua maestria através das mesmas não eram garantia de um novo nascimento. Para tanto, vemos os fariseus que, de um modo geral, tinham profundo conhecimento da Lei de Moisés e dos profetas e suas profecias messiânicas, porém não criam nas mesmas, eles eram desprovidos do Espírito Santo.
Quem era Nicodemos?
Ele era um fariseu piedoso e que viu Jesus limpar o templo (Jo. 2:13-20), descendente de Abraão, observador meticuloso da Lei de Moisés e príncipe (autoridade dos judeus, principal), membro do Sinédrio.
O que era o Sinédrio?
Em suma, era o supremo tribunal dos judeus composto por 70 anciãos versados nas Escrituras mais o seu líder (Jo. 11:47) que julgam causas e respondiam o povo. Era, em sua maioria, composta por saduceus, podendo conter em certos períodos de tempo, fariseus, em sua maioria. Tinham deveres variados como: tomar decisões acerca das práticas religiosas, cuidar do templo, investigar os direitos dos mestres religiosos, entrar em relação com os Estados estrangeiros. Esta última função, dependia da força dos reis ou governadores em voga naquele tempo. Os romanos tiraram o poder de vida e de morte do Sinédrio por volta do ano 20 d.C., e para executarem qualquer réu, precisavam da autorização de Roma.
Nicodemos foi se encontrar com Jesus à noite, talvez pelo motivo da cidade de Jerusalém estar repleta de pessoas devido a Páscoa judaica (2:1) estar próxima e com o intuito de não chamar atenção dos outros membros do Sinédrio que em geral se opunham a Cristo, foi ter com Ele à noite. Se Nicodemos fosse falar com Jesus à luz do dia ou em público, poderia se tornar inimigo das autoridades que não reconheciam Jesus como o Messias, o Cristo de Deus. Os judeus que viram Jesus fazer grandes sinais, algo que eles gostariam de fazer, não viam ou criam que Jesus era Deus conforme os profetas profetizaram (Is. 9:6), para eles Jesus era apenas um bom judeu, sábio e bom, mas Deus jamais, pois isso iria contra o que eles criam a respeito de haver um único Deus (Deut. 6:4).
Porém, eles perceberam que havia algo diferente em Jesus, suas obras mostravam e comprovavam que Deus estava com Ele (v. 2). Inclusive, sobre Jesus eles discutiram muito para saber quem era Ele, isso vemos quando Nicodemos disse:
"Rabi, bem sabemos que és Mestre vindo de Deus". Então, qual era o segredo de Jesus? O que Ele tinha que os fariseus e os outros líderes religiosos não tinham? Jesus tinha um grande conhecimento das Escrituras, os judeus também. Então por quê eles não podiam fazer o que Ele fazia? A resposta está logo adiante.
Nicodemos queria saber mais sobre o Mestre. Será que Ele cumpria a Lei melhor do que ele e os outros membros do Sinédrio para fazer grandes sinais? O que esse homem tem de diferente?
Quando de noite, veio ter com Jesus, O mesmo não o criticou por tê-Lo procurado à noite, às escondidas, mas no lugar disso, Jesus começou a tratar com Nicodemos de uma outra e mais importante necessidade, que era a de
"nascer de novo" para poder entrar no Reino de Deus. Aquilo deveria ter chocado Nicodemos, pois sendo judeu e filho de Abraão, acreditava que já tinha sua
"passagem comprada" e garantida para o Reino de Deus. Mas não foi isso que ouviu de Jesus. Era-lhe necessário nascer de novo, ou do alto, de Deus. Primeiramente ele havia nascido de mulher, de uma família humana, agora precisava nascer da família de Deus por meio do Espírito Santo. Quando um não judeu se convertia ao judaísmo, este passava a ser chamado de
"nascido de novo" ou
"filho renascido", então Nicodemos deveria ter compreendido que Jesus queria dizer
conversão, apesar de ter parecido uma afronta para ele, jamais lhe ocorreria que um judeu precisasse converter-se à verdadeira fé de Israel uma vez que pensava ter a salvação garantida.
Mas não se tratava de uma conversão religiosa qualquer, mas do nascer de novo, do alto. Nicodemos entendeu que Jesus falava de conversão e não de um nascimento físico, pois ele replica a Cristo com uma pergunta irônica:
"Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?" (Jo. 3:4). Mas Jesus reitera:
"Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus" (Jo. 3:5). O erudito Craig S. Keener afirma em seu
"Comentário Bíblico do Novo Testamento" que da
"água e do Espírito" é uma fraseologia grega que significa
"da água, isto é, do Espírito". Isso seria algo tomado de Ezequiel 36:24-27 como uma forma de usar a água simbolicamente para purificação do Espírito. De modo que Jesus poderia ter querido dizer:
"convertido pelo Espírito". Desta forma, foi muito fácil para Nicodemos entender que água se referia ao batismo de João, relacionado à purificação ritual do corpo, e Espírito se referia a um ato de Deus pelo Espírito Santo para nos dar poder para abandonar o pecado e viver uma visa santa.
Nos versículos 6-7, Jesus mostra para Nicodemos quem ele era, ou seja, você é
"carne, nascido da carne", e toda carne vai perecer um dia, mas quem é nascido do Espírito é diferente, esse sim, pode entrar no Reino de Deus. Jesus mostrou claramente para Nicodemos que ele poderia ver Deus agindo diante dos olhos dele e fazendo grandes maravilhas como de fato ele viu (v.2), mas sem o toque sobrenatural do Espírito de Deus, ele jamais seria capaz de entender o que Deus estava realizando. Nicodemos era nascido da carne, estava vivo na carne, mas não tinha a vida do Espírito de Deus, e nenhum mortal pode entender absolutamente nada das coisas de Deus o Espírito de Deus. Então, respondendo a pergunta do início sobre qual era o segredo de Jesus, podemos dizer que estava no poder do Espírito de Deus que gera vida e poder para realizar as obras de Deus:
"O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos..." (Is. 61:1);
"concernente a Jesus de Nazaré, como Deus o ungiu com o Espírito Santo e com poder; o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do Diabo, porque Deus era com ele." (At. 10:38).
Em palavras bem reais, Jesus mostrou para Nicodemos que ele e os fariseus não tinham o Espírito de Deus, eles tinham as Escrituras do Antigo Testamento, mas não podiam entendê-las sem o Espírito Santo de Deus, e sem o Espírito Santo de Deus nada iria mudar na vida deles, assim como nada pode mudar em nossas vidas sem o Espírito de Deus. Não adianta ter a Lei de Deus sem o Espírito de Deus, por isso é necessário
"nascer de novo" para que o Espírito de Deus gere uma vida nova com coração novo para receber o Espírito Santo e assim andar em novidade de vida (Ez. 36:25-27).
O vento sopra onde quer
No versículo 8, vemos o Senhor Jesus afirmando que o
"vento sopra onde quer", o que para Keener pode ser traduzido como
"voz do Espírito". O vento é imprevisível e incontrolável, e o Espírito é simbolizado como vento em Ezequiel 37. Somente quando o Espírito está em nosso ser é que podemos ter vida. Não uma vida no contexto humano, mas no contexto de Deus. Estava diante de Nicodemos aquele que era a sabedoria de Deus (I Cor. 1:24), o único ser plenamente qualificado para revelar Deus ao homem e conceder o Espírito de vida tanto para Nicodemos como para qualquer um de nós.
Você é mestre em Israel
Imagine Jesus chamando você de mestre! Se Ele falou, era porque Nicodemos realmente era alguém de grande destaque e conhecimento dentro tanto daquela nação como também do Sinédrio. Mas isso era nada sem o Espírito. Em Números 11:24-25 vemos Moisés escolhendo 70 anciãos do povo, os quais somente puderam fazer qualquer coisa depois que Deus pôs do Espírito que estava sobre Moisés naqueles homens. Se aqueles homens só puderam levar a cabo a obra de Deus após receber o Espírito, porque com Nicodemos seria diferente? Ele tinha conhecimento da Lei e era mestre em Israel? Sim! Mas precisava do Espírito, porque antes disso Deus não pode nos usar. Deus teve que ensinar Nicodemos a se humilhar, e penso que conosco não será diferente.
Você se lembra de que no início falamos que Nicodemos e os membros do Sinédrio discutiram a respeito de Jesus dizendo
"Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus"? Agora é a vez de Jesus dizer daquilo que Ele sabe:
"Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testemunho." (Jo. 3:11). Mas quem é esse
"nós" a que Jesus se refere? Jesus estava se referindo ao testemunho celestial; logo era Ele, o Pai e o Espírito Santo testemunhando acerca das verdades espirituais que Nicodemos, o mestre de Israel, ainda não sabia.
Somente uma testemunha celestial poderia testemunhar plenamente do céu, e Jesus veio de lá (v.14), então poderia testemunhar para Nicodemos no poder e autoridade do Espírito Santo acerca de tudo que viu (v.11). Jesus mostrou claramente para Nicodemos que Deus tinha vindo à terra, se fez homem, falou com Nicodemos, ensinou muito para ele e ele por sua vez não havia entendido nada. Então sabe o que isso quer dizer? Nicodemos não tinha o Espírito Santo. Jesus, no versículo 13 faz menção de algo que não passou despercebido pelo príncipe Nicodemos, que é a menção do
Filho do homem, o qual é mencionado pelo profeta Daniel no capítulo 7:13-14. Creio que Nicodemos começou a entender com quem ele estava falando a partir daí, pois o Filho do homem mencionado por Daniel tinha uma autoridade que homem algum jamais sonhou ou poderia ter, neste texto de Daniel, ficava claro quem era o Filho do homem para aquele conhecedor das Escrituras.
Jesus estava mostrando para Nicodemos quem estava diante dele. Era aquele a respeito do qual Daniel falou, um que recebeu o domínio, a honra, e o reino para que todos o servissem. Seu domínio é eterno. E Jesus era aquele do qual Nicodemos tinha conhecimento pelas Escrituras, porém ainda não acreditava. Por isso, leiamos o texto:
"Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como o Filho do homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e o fizeram chegar até ele. E foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído." (Dan. 7:13-14). É exatamente este que você deve servir e não entende que é Deus (Is. 9:6). Nenhum homem subiu ao céu, mas Deus se fez homem e do céu desceu para falar com os homens acerca da Salvação.
Por isso, é necessário entender que assim
"como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado" (Jo. 3:14), esse que fala com você, do qual você leu em Daniel. Nicodemos, é necessário que assim como o povo de Israel foi salvo da praga das serpentes quando contemplaram (olharam) a serpente de bronze
levantada por Moisés (Núm. 21:6-9), todas as pessoas que vierem a crer sejam salvas da morte, da separação de Deus e do tormento eterno ao contemplar com seus olhos espirituais o Messias, Jesus sendo
levantado na cruz para morrer. Desta forma,
"...todo aquele que nele crer não vai perecer, mas terá a vida eterna." (Jo. 3:15).
Crês nisso?
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Bibliografia:
KEENER, Craig S.
Comentário Bíblico Atos. Novo Testamento: 1ª ed. Belo Horizonte: Editora Atos, 2004.
STERN, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento: 2ª Ed. Belo Horizonte: Editora Atos, 2008.
BOYER, Orlando. Dicionário Bíblico Universal: São Paulo: CPAD, 1999.
KASCHEL, Werner; ZIMMER, Rudi. Dicionário da Bíblia de Almeida: 2ª Ed. São Paulo: SBB, 1999.