Uma área da teologia cristã frequentemente desprezada ou tomada por certa é a doutrina da Igreja. Tal descuido deve-se, em parte, à suposição comum de que algumas áreas do estudo teológico são mais essenciais para a salvação e a vida cristã, como por exemplo as doutrinas de Cristo e da salvação, ao passo que outras são realmente mais emocionantes, como as manifestações do Espírito Santo ou a doutrina das últimas coisas. A Igreja, por outro lado, é assunto que muitos cristãos consideram conhecido. Afinal de contas, tem sido parte regular de sua vida. Que proveito haveria no estudo extensivo de algo tão comum e rotineiro na experiência da maioria dos crentes? A resposta, logicamente, é: bastante.
As Escrituras, juntamente com a história do desenvolvimento e expansão do Cristianismo, oferecem uma riqueza de introspecções à natureza e propósito da Igreja. Adquirir melhor conhecimento teológico sobre a Igreja não é somente um exercício acadêmico digno de nossa atenção. Torna-se essencial para obtermos uma perspectiva correta da teologia que deve ser aplicada à vida diária.
A Igreja foi projetada e criada por Deus. É a sua maneira de prover alimento espiritual para o crente e oferecer uma comunidade de fé através da qual o Evangelho é proclamado e a sua vontade progride a cada geração. Logo, a doutrina da Igreja trata de questões de importância fundamental para o nosso comportamento cristão individual e a correta compreensão da dimensão corpórea da vida e ministério cristãos.
Nos círculos teológicos, a questão da origem exata da Igreja do Novo Testamento tem sido alvo de muitos debates. Alguns têm adotado uma abordagem bastante ampla, e sugerem que a Igreja existe desde o início da raça humana, incluindo todas as pessoas que já exerceram fé nas promessas de Deus, a partir de Adão e Eva (Gn 3.15). Outros apoiam um início veterotestamentário para a Igreja, especificamente nos relacionamentos pactuais entre Deus e o seu povo, a partir dos patriarcas e continuando durante o período mosaico. Muitos estudiosos preferem uma origem neotestamentária para a Igreja, mas neste contexto também há diferenças de opinião. Alguns, por exemplo, acreditam que a Igreja foi fundada quando Cristo começou publicamente seu ministério e chamou os 12 discípulos. Sobejam os pontos de vista, inclusive o de alguns ultradispensionalistas, que acreditam não ter a Igreja começado realmente antes do ministério e viagens missionárias do apóstolo Paulo.
A maioria dos estudiosos, quer sejam seus antecedentes pentecostais, evangélicos ou modernistas, acreditam que as evidências bíblicas são favoráveis ao dia de Pentecostes, em Atos 2, para a inauguração da Igreja.
Alguns, no entanto, reconhecem que a morte de Cristo efetivou a nova aliança (Hb 9.15,16). Por isso, entendem ser João 20.21-23 a inauguração da Igreja, como incorporação à nova aliança (cf. João 20.29, que demonstra já serem crentes os discípulos - já estavam dentro da Igreja antes de serem revestidos de poder pelo Espírito Santo).
Várias são as razões para crermos que a Igreja teve sua origem ou pelo menos foi publicamente reconhecida pela primeira vez no dia de Pentecostes. Embora na era pré-cristã Deus certamente se associasse a uma comunidade pactual de fiéis, não há evidências claras de que o conceito de Igreja existisse no período do Antigo Testamento. Ao citar expressamente ekklêsia pela primeira vez (Mt 16.18), Jesus falava de algo que iniciaria no futuro ("edificarei" [gr. oikodomêsõ] é um verbo no futuro simples, não uma expressão de disposição ou determinação).
As Escrituras, juntamente com a história do desenvolvimento e expansão do Cristianismo, oferecem uma riqueza de introspecções à natureza e propósito da Igreja. Adquirir melhor conhecimento teológico sobre a Igreja não é somente um exercício acadêmico digno de nossa atenção. Torna-se essencial para obtermos uma perspectiva correta da teologia que deve ser aplicada à vida diária.
A Igreja foi projetada e criada por Deus. É a sua maneira de prover alimento espiritual para o crente e oferecer uma comunidade de fé através da qual o Evangelho é proclamado e a sua vontade progride a cada geração. Logo, a doutrina da Igreja trata de questões de importância fundamental para o nosso comportamento cristão individual e a correta compreensão da dimensão corpórea da vida e ministério cristãos.
ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA IGREJA
DEFINIÇÃO DE IGREJA
Jesus assevera, em Mateus 16.18: "Edificarei a minha igreja". Esta é a primeira entre mais de cem referências no Novo Testamento que empregam a palavra grega primária para "igreja": ekklêsia, composta com a preposição ek ("fora de") e o verbo kaleõ ("chamar"). Logo, ekklêsia denotava originalmente um grupo de cidadãos chamados e reunidos, visando um propósito específico. O termo é conhecido desde o século V a.C, nos escritos de Heródoto, Xenofontes, Platão e Eurípedes. Este conceito de ekklêsia prevalecia especialmente na capital, Atenas, onde os líderes políticos eram convocados como assembleia constituinte até quarenta vezes por ano. O uso secular do termo também aparece no Novo Testamento. Em Atos 19.32,41, por exemplo, ekklêsia refere-se à turba enfurecida de cidadãos que se reuniu em Éfeso para protestar contra os efeitos do ministério de Paulo. Na maioria das vezes, porém, o termo tem uma aplicação mais sagrada e refere-se àqueles que Deus tem chamado para fora do pecado e para dentro da comunhão do seu Filho, Jesus Cristo, e que se tornaram "concidadãos dos santos e da família de Deus" (Ef 2.19). Ekklêsia é sempre empregada às pessoas e também identifica as reuniões destas para adorar e servir ao Senhor.
A Septuaginta, tradução grega do Antigo Testamento, também emprega ekklêsia quase cem vezes, usualmente como tradução do termo hebraico qahal ("assembleia", "convocação", "congregação"). No Antigo Testamento, assim como no Novo, o termo às vezes se refere a uma assembleia religiosa (por exemplo, Nm 16.3; Dt 9.10) e em outras ocasiões a uma reunião visando propósitos seculares, até mesmo malignos (Gn 49.6; Jz 20.2; 1 Rs 12.3 etc). Uma palavra hebraica com significado semelhante a qahal é 'edah ("congregação", "assembleia", "agrupamento", "reunião)'. É de relevância notar que ekklêsia é frequentemente usada na Septuaginta para traduzir qahal, mas nunca 'edah'. Pelo contrário, esta última palavra é mais frequentemente traduzida por sunagõgê ("sinagoga")'. Por exemplo: a frase "comunidade de Israel" (Ex 12.3) podia ser traduzida por "sinagoga de Israel" se seguíssemos a versão da Septuaginta (ver também; Nm 14-lss.; 20.1ss).
A palavra grega sunagõgê, assim como seu equivalente hebraico, 'edah', tem o significado essencial de pessoas reunidas. Hoje, quando escutamos a palavra "sinagoga", usualmente temos o retrato mental de uma assembleia de judeus reunidos para orar e escutar a leitura e exposição do Antigo Testamento. Significado semelhante também se acha no Novo Testamento (Lc 12.11; At 13.42 etc). E, embora os cristãos primitivos costumassem evitar a palavra para descrever a eles mesmos, Tiago não a evita ao (Tg 2.2) referir-se aos crentes que se reuniam para adorar, talvez por serem os seus leitores convertidos judaicos, na sua maioria.
Como consequência, quer nos refiramos aos termos hebraicos comuns 'qahal' e 'edah', quer às palavras gregas sunagõgê e ekklêsia, o significado essencial continua sendo o mesmo: a "Igreja" consiste naqueles que foram chamados para fora do mundo, do pecado e da vida alienada de Deus, os quais, mediante a obra de Cristo na sua redenção foram reunidos como uma comunidade de fé que compartilha das bênçãos e responsabilidades de servir ao Senhor.
A palavra grega kuriakos ("pertencente ao Senhor"), que aparece apenas duas vezes no Novo Testamento (1 Co 11.20; Ap 1.10), deu origem à palavra Church - "igreja", em inglês (também Kirche, em alemão, e kirk, na Escócia). No cristianismo primitivo, tinha o significado de lugar onde se reunia a ekklêsia, a Igreja. O local da assembleia, independente do seu uso ou ambiente, era considerado "santo" ou pertencente ao Senhor, porque o povo de Deus se reunia ali para adorá-lo e servi-lo.
Hoje, "igreja" comporta vários significados. Refere-se frequentemente ao prédio onde os crentes se reúnem (por exemplo: "Estamos indo à igreja"). Pode indicar a nossa comunhão local ou denominação ("Minha igreja ensina o batismo por imersão") ou um grupo religioso regional ou nacional ("a igreja da Inglaterra"). A palavra é empregada frequentemente com referência a todos os crentes nascidos de novo, independentemente de suas diferenças geográficas e culturais ("a Igreja do Senhor Jesus Cristo"). Mas seja como for, o significado bíblico de "igreja" refere-se primariamente não às instituições e culturas, mas sim às pessoas reconciliadas com Deus mediante a obra salvífica de Cristo e que agora pertencem a Ele.
DEFINIÇÃO DE IGREJA
Jesus assevera, em Mateus 16.18: "Edificarei a minha igreja". Esta é a primeira entre mais de cem referências no Novo Testamento que empregam a palavra grega primária para "igreja": ekklêsia, composta com a preposição ek ("fora de") e o verbo kaleõ ("chamar"). Logo, ekklêsia denotava originalmente um grupo de cidadãos chamados e reunidos, visando um propósito específico. O termo é conhecido desde o século V a.C, nos escritos de Heródoto, Xenofontes, Platão e Eurípedes. Este conceito de ekklêsia prevalecia especialmente na capital, Atenas, onde os líderes políticos eram convocados como assembleia constituinte até quarenta vezes por ano. O uso secular do termo também aparece no Novo Testamento. Em Atos 19.32,41, por exemplo, ekklêsia refere-se à turba enfurecida de cidadãos que se reuniu em Éfeso para protestar contra os efeitos do ministério de Paulo. Na maioria das vezes, porém, o termo tem uma aplicação mais sagrada e refere-se àqueles que Deus tem chamado para fora do pecado e para dentro da comunhão do seu Filho, Jesus Cristo, e que se tornaram "concidadãos dos santos e da família de Deus" (Ef 2.19). Ekklêsia é sempre empregada às pessoas e também identifica as reuniões destas para adorar e servir ao Senhor.
A Septuaginta, tradução grega do Antigo Testamento, também emprega ekklêsia quase cem vezes, usualmente como tradução do termo hebraico qahal ("assembleia", "convocação", "congregação"). No Antigo Testamento, assim como no Novo, o termo às vezes se refere a uma assembleia religiosa (por exemplo, Nm 16.3; Dt 9.10) e em outras ocasiões a uma reunião visando propósitos seculares, até mesmo malignos (Gn 49.6; Jz 20.2; 1 Rs 12.3 etc). Uma palavra hebraica com significado semelhante a qahal é 'edah ("congregação", "assembleia", "agrupamento", "reunião)'. É de relevância notar que ekklêsia é frequentemente usada na Septuaginta para traduzir qahal, mas nunca 'edah'. Pelo contrário, esta última palavra é mais frequentemente traduzida por sunagõgê ("sinagoga")'. Por exemplo: a frase "comunidade de Israel" (Ex 12.3) podia ser traduzida por "sinagoga de Israel" se seguíssemos a versão da Septuaginta (ver também; Nm 14-lss.; 20.1ss).
A palavra grega sunagõgê, assim como seu equivalente hebraico, 'edah', tem o significado essencial de pessoas reunidas. Hoje, quando escutamos a palavra "sinagoga", usualmente temos o retrato mental de uma assembleia de judeus reunidos para orar e escutar a leitura e exposição do Antigo Testamento. Significado semelhante também se acha no Novo Testamento (Lc 12.11; At 13.42 etc). E, embora os cristãos primitivos costumassem evitar a palavra para descrever a eles mesmos, Tiago não a evita ao (Tg 2.2) referir-se aos crentes que se reuniam para adorar, talvez por serem os seus leitores convertidos judaicos, na sua maioria.
Como consequência, quer nos refiramos aos termos hebraicos comuns 'qahal' e 'edah', quer às palavras gregas sunagõgê e ekklêsia, o significado essencial continua sendo o mesmo: a "Igreja" consiste naqueles que foram chamados para fora do mundo, do pecado e da vida alienada de Deus, os quais, mediante a obra de Cristo na sua redenção foram reunidos como uma comunidade de fé que compartilha das bênçãos e responsabilidades de servir ao Senhor.
A palavra grega kuriakos ("pertencente ao Senhor"), que aparece apenas duas vezes no Novo Testamento (1 Co 11.20; Ap 1.10), deu origem à palavra Church - "igreja", em inglês (também Kirche, em alemão, e kirk, na Escócia). No cristianismo primitivo, tinha o significado de lugar onde se reunia a ekklêsia, a Igreja. O local da assembleia, independente do seu uso ou ambiente, era considerado "santo" ou pertencente ao Senhor, porque o povo de Deus se reunia ali para adorá-lo e servi-lo.
Hoje, "igreja" comporta vários significados. Refere-se frequentemente ao prédio onde os crentes se reúnem (por exemplo: "Estamos indo à igreja"). Pode indicar a nossa comunhão local ou denominação ("Minha igreja ensina o batismo por imersão") ou um grupo religioso regional ou nacional ("a igreja da Inglaterra"). A palavra é empregada frequentemente com referência a todos os crentes nascidos de novo, independentemente de suas diferenças geográficas e culturais ("a Igreja do Senhor Jesus Cristo"). Mas seja como for, o significado bíblico de "igreja" refere-se primariamente não às instituições e culturas, mas sim às pessoas reconciliadas com Deus mediante a obra salvífica de Cristo e que agora pertencem a Ele.
POSSÍVEIS ORIGENS NO NT
A maioria dos estudiosos, quer sejam seus antecedentes pentecostais, evangélicos ou modernistas, acreditam que as evidências bíblicas são favoráveis ao dia de Pentecostes, em Atos 2, para a inauguração da Igreja.
Alguns, no entanto, reconhecem que a morte de Cristo efetivou a nova aliança (Hb 9.15,16). Por isso, entendem ser João 20.21-23 a inauguração da Igreja, como incorporação à nova aliança (cf. João 20.29, que demonstra já serem crentes os discípulos - já estavam dentro da Igreja antes de serem revestidos de poder pelo Espírito Santo).
Várias são as razões para crermos que a Igreja teve sua origem ou pelo menos foi publicamente reconhecida pela primeira vez no dia de Pentecostes. Embora na era pré-cristã Deus certamente se associasse a uma comunidade pactual de fiéis, não há evidências claras de que o conceito de Igreja existisse no período do Antigo Testamento. Ao citar expressamente ekklêsia pela primeira vez (Mt 16.18), Jesus falava de algo que iniciaria no futuro ("edificarei" [gr. oikodomêsõ] é um verbo no futuro simples, não uma expressão de disposição ou determinação).
Na condição de corpo de Cristo, é natural que a Igreja dependa integralmente da obra concluída por Ele na Terra (sua morte, ressurreição e ascensão) e da vinda do Espírito Santo (Jo 16.7; At 20.28; 1 Co 12.13). Millard J. Erickson observa que Lucas não emprega ekklêsia no seu evangelho, mas a palavra aparece 24 vezes em Atos dos Apóstolos. Este fato sugere que Lucas não tinha nenhum conceito da presença da Igreja antes do período abrangido em Atos. Imediatamente após àquele grande dia em que o Espírito Santo foi derramado sobre os crentes reunidos, a Igreja começou a propagar poderosamente o Evangelho, conforme fora predito pelo Senhor ressurreto em Atos 1.8. A partir daquele dia, a Igreja continuou a propagar-se e a aumentar no mundo inteiro, mediante o poder e orientação daquele mesmo Espírito Santo.
Fonte: HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma perspectiva Pentecostal: 1ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
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