"E O MENINO CRESCIA E SE FORTALECIA EM ESPÍRITO, CHEIO DE SABEDORIA; E A GRAÇA DE DEUS ESTAVA SOBRE ELE... E CRESCIA JESUS EM SABEDORIA, E EM ESTATURA, E EM GRAÇA PARA COM DEUS E OS HOMENS"
(LUCAS 2:40, 52)
São poucos os relatos inspirados da infância de Jesus, por isso devemos extrair deles tudo o que pudermos para uma melhor compreensão da mais bela história da humanidade. Nada se sabe da vida de Jesus depois do relato de seu nascimento até a sua manifestação pública a Israel, exceto o que Lucas escreveu. O relato de Lucas 2:40-52 quebra o silêncio desse período. Essa lacuna tem sido, ao longo da história do cristianismo, motivo de especulações, muitas vezes, nocivas à fé cristã.
Localizando os Fatos no Tempo
Somente Mateus e Lucas registraram os acontecimentos do nascimento de Jesus, esses relatos estão nos dois primeiros capítulos de Mateus e de Lucas. Muito pouco sabemos desse evento, mas sobre a infância de Jesus sabemos menos ainda, pois restringe-se a uns poucos versículos de Lucas. Quanto à cronologia, o tempo mencionado no primeiro evangelho é muito vago, pois segue o estilo do Antigo Testamento, afirma que Jesus nasceu “no tempo do rei Herodes” (Mt 2:1) e que “naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judeia” (Mt 3:1), veja Êxodo 2:11 e Isaías 38:1. Lucas foi mais preciso e devemos a ele a localização dos fatos no tempo, pois afirma que Jesus nasceu por ocasião de um censo decretado por César Augusto quando Cirênio (Quirino) era governador da Síria (Lc 2:1, 2) e o seu ministério começou no “ano quinze do império de Tibério César” (Lc 3:1). A intenção do Espírito Santo sempre foi tornar conhecido ao povo de Deus os fatos, as manifestações sobrenaturais, para ensino e edificação da igreja, não há, pois, preocupação com datas precisas. Essas datas existem porque os fatos são reais e históricos. Assim, Lucas fornece datas globais, e João deixa pista para se saber a duração do período do ministério terreno de Jesus.
Segundo os historiadores romanos Tácito e Suetônio, o período áureo de Roma do governo de Júlio César e Augusto havia terminado a partir de Tibério, que assumiu o governo depois da morte de Augusto em 14 d.C. Esse período chamado de “Período de Augusto” é reconhecido como o momento do apogeu da literatura latina, no seu governo Jesus nasceu.
Depois da morte de Augusto começa o período da Casa Júlio-Claudina, em que governaram Roma Tibério, Calígula, Cláudio e Nero, sendo Tibério e Cláudio citados nominalmente no Novo Testamento (Lc 3:1; At 11:28; 18:2). Jesus foi crucificado durante o governo de Tibério, e o período dos seus sucessores coincide com o da expansão do cristianismo. Esse período termina com a morte de Nero em 68. O governo de Tibério foi entre 14 e 37 d. C. O evangelista informa-nos, ainda, que no ano quinze, portanto, por volta do ano 29 da Era Cristã, Jesus estava com quase 30 anos (Lc 3:23), idade em que os levitas começavam seu ministério (Nm 4:47).
Devemos ao apóstolo João a informação dos três anos e meio do ministério terreno de Jesus, pois ele menciona quatro páscoas: “estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém” (2:13); “depois disso, havia uma festa entre os judeus, e Jesus subiu a Jerusalém” (5:1); “e a Páscoa, a festa dos judeus, estava próxima” (6:4); “estava próxima a Páscoa dos judeus, e muitos daquela região subiram a Jerusalém antes da Páscoa, para se purificarem... Foi, pois, Jesus seis dias antes da Páscoa a Betânia” (11:55; 12.1). Porém, há muita discussão sobre a “festa” mencionada em João 5:1, pois o texto não especifica visto que os judeus celebravam, na época, pelo menos cinco festas anuais: Festa da Páscoa (Lc 22:1), Festa do Pentecostes (At 2:1), Festa dos Tabernáculos (Jo 7:2), Festa de Purim, que só aparece no livro de Ester (Et 9:26, 28, 29, 31, 32), e a Festa da Dedicação (Jo 10:22). Assim, fica difícil saber a que festividade o apóstolo está se referindo. Considerando a festa de João 5:1 como a da Páscoa, então teremos pouco mais de três anos desde o batismo de Jesus até ao Calvário.
De Mateus infere-se que Jesus estava com cerca de dois anos de idade quando José e Maria fugiram para o Egito (2:16), esclarece-se que o retorno deles para Israel só aconteceu depois da morte de Herodes, o Grande, quando seu filho, Arquelau reinava na Judeia (2:19, 22). Segundo Josefo, historiador judeu do primeiro século da Era Cristã, Herodes morreu 37 anos depois de ter sido nomeado rei dos judeus (Antiguidades: 17.10.741), isso corresponde ao ano 749 AUC (Anno Urbis Conditae, “Ano em que a Cidade foi fundada”), referência à cidade de Roma, equivalente ao ano 4 antes da Era Cristã.¹ O referido historiador afirma, ainda, que Arquelau foi deposto no décimo ano do seu reinado (Antiguidades: 17.15.757).
Essas informações permitem dizer que Jesus retornou do Egito, com José e Maria, quando estava com a idade entre três e oito anos. Muitos estranham o silêncio dos evangelhos sobre a vida de Jesus dos 18 anos entre a sua visita a Jerusalém, quando estava com 12 anos, até o início do seu ministério. Isso nunca foi problema para os cristãos, mas a curiosidade, às vezes, induz-nos a procurar mais informações sobre a vida de nosso Salvador. Porém, o compromisso do cristão é “não ir além do que está escrito” (I Co 4.6). A literatura extra-bíblica não é autoridade para nortear a nossa vida, e isso jamais devemos perder de vista. O propósito da vinda de Jesus ao mundo foi para “salvar os pecadores” (I Tm 1:15). O plano divino revelado na Bíblia é a redenção humana, e os evangelhos registram o cumprimento do propósito de Deus para a salvação da humanidade.
O silêncio que precedeu o início da apresentação pública de Jesus é natural e não deve surpreender os cristãos, porque os evangelhos se concentram no seu ministério, mesmo assim, dá atenção especial à última semana da vida terrena de Cristo, semana da Páscoa, em que foi realizada a redenção. Os evangelhos registram a vida de Jesus, mas concentram-se no ponto principal do seu ministério: a obra do Calvário, pois o objetivo do Espírito Santo, ao inspirar esses evangelistas, foi tornar conhecida de toda humanidade como se realizou a grande e sublime obra da redenção, e não para satisfazer curiosidades. Se fosse realmente importante escrever o que aconteceu nesse período, certamente estaria registrado.
A importância da morte e ressurreição de Jesus podem ser vistas até na estatística dos quatro evangelhos: sete capítulos dos 28 de Mateus são dedicados a essa semana; cinco, dos 16 de Marcos; quatro dos 24 de Lucas e nove, dos 21 de João, num total de 25 dos 89 capítulos dos quatro evangelhos. Isso representa 28% deles dedicados à semana da crucificação e o período após a ressurreição, até à ascensão ao céu. São menos de dois meses num ministério que durou cerca de três anos e meio.
O Crescimento de Jesus
Aqui, temos um assunto que até mesmo teólogos defensores da ortodoxia cristã, às vezes tropeçam, visto que Deus é perfeito, sendo o Filho, Deus igual ao Pai e da mesma natureza, logo não se tem necessidade de aumentar ou diminuir seus conhecimentos. Nada teria para aprender e não teria como melhorar ou piorar seu comportamento. Porém, a Bíblia revela que Jesus é o verdadeiro Deus e também o verdadeiro homem.
As Escrituras Sagradas apresentam diversas características humanas em Jesus...Porém, convém considerar a infância de Jesus, enfocando o seu desenvolvimento físico, intelectual e espiritual: “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens... E o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (Lc 2:40, 52).
Lucas apresenta, ainda que apenas um lampejo, o desenvolvimento físico “em estatura” (2.52), espiritual e intelectual de Jesus “e o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (2:40). Lucas é extremamente meticuloso ao relatar a vida de nosso Salvador, pois pagãos criam na metamorfose de algumas de suas divindades. Esse “fenômeno” mitológico era, segundo acreditavam, a capacidade de suas divindades assumirem formas diferentes. Ele, porém, não queria que o Mestre divino fosse associado e nem confundido com elas. Estava tratando de um evento singular na história, algo sobrenatural, pois o Deus verdadeiro, Criador do Céu e da Terra, assumiu a forma humana vindo como homem de maneira que o curto relato rechaça toda e qualquer possibilidade de associação com a mitologia pagã ou com a magia.
Era um desenvolvimento gradual físico e mental, seu crescimento espiritual na adolescência é mais uma prova de sua natureza humana. Assim, temos autoridade para falar que foi criança e precisava da proteção divina, dos cuidados maternos, e que precisou aprender a comer, a andar e a falar dentre outras coisas comuns aos humanos. Ele viveu entre nós e andou entre os homens com todas as características dos seres humanos, mas sem pecado, pois deu testemunho de uma vida impecável.
Essas informações fornecidas por Lucas, portanto, estão de acordo com todo o contexto bíblico e ajudam-nos a compreender a natureza humana de Cristo. Jesus foi levado a Jerusalém para a cerimônia de purificação (Lc 2:22). Depois disso, parece ser a sua primeira visita à Cidade Santa e ao Templo, mas não podemos ter certeza, o que sabemos é que José e Maria iam anualmente para lá (2:41). Dessa vez, o menino Jesus estava com 12 anos (Lc 2:42). A ida de Jesus a Jerusalém, nessa idade, foi um vento significativo. Há entre os judeus um ritual, celebrado ainda hoje, chamado Bar Mitzvah, cerimônia de maioridade espiritual no judaísmo, ou de passagem, em que o menino faz, pela primeira vez, a leitura pública da Torah – Lei de Moisés, depois que completa 13 anos de vida, segundo o Talmude (Aboth 5.21; Niddar 5.6).²
A expressão aramaica bar mitzvah significa “filho do mandamento”. É a maioridade espiritual, tornando-se um“filho da lei” ou “do mandamento” e membro da sinagoga. O Talmude prescreve que um ano ou dois antes de o menino completar 13 anos deve ser levado para a observância, para que possa ser preparado (Yoma 8.4). Talvez seja esse o contexto em que Lucas descreve a ida de Jesus a Jerusalém.
A Páscoa era naquela época, e é ainda hoje, a maior festa religiosa do judaísmo. Todos os adultos do sexo masculino tinham a obrigação de frequentar o Templo para a celebração das festas solenes. Quem morava numa região fora do raio de 25 quilômetros da Cidade Santa não tinha a obrigação de ir às festas religiosas judaicas, o Talmude expressamente isentava as mulheres desse compromisso (Hagigah 1.1).³ José e Maria eram religiosos dedicados e, como todo judeu devoto, por residirem na Galileia, mais de 100 quilômetros de Jerusalém, não tinham essa obrigação, contudo, todos os anos iam à Festa da Páscoa: “Ora, todos os anos, iam seus pais a Jerusalém, à Festa da Páscoa” (Lc 2:41). José e Maria não procediam de família rica, e mesmo com escassos recursos financeiros, não deixavam de ir aos cultos para adoração. Um exemplo de dedicação e amor a Deus que deve ser seguido por todos os cristãos.
A festa durava sete dias, ao final desse período, a caravana das mulheres partia de volta para suas casas com bastante antecedência, os homens seguiam posteriormente para se encontrarem com elas na parada seguinte para o pouso, à noite. “Terminados aqueles dias, ficou o menino Jesus em Jerusalém, e não o souberam seus pais” (Lc 2:43). É provável ter Maria pensado que o menino estivesse com José e vice-versa, quando descobriram que Jesus não estava na companhia deles, retornaram a Jerusalém (vv. 44, 45). Lá encontraram-no “no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os” (v. 46). Os doutores eram as autoridades religiosas de Israel, mestres da lei de Moisés, que conheciam com profundidade as Escrituras Sagradas.
Os críticos, às vezes, questionam o relato de Lucas por causa do rígido sistema da religião judaica e do ritual do templo. Como um menino teria acesso ao Templo, com toda sua estrutura e ritual, e discutir com suas autoridades assunto teológicos? O Dr. Alfred Edersheim (1825-1889) reconhece a existência desses obstáculos, porém, não concorda com a opinião desses críticos, afirma: "Porque lemos no Talmude (Sanh. 88 b)¹¹ que uma Beth há-Midrash que os membros do Sinédrio do Templo, que em dias ordinários se sentavam como Tribunal de Apelação, ao final do sacrifício da manhã ou da noite, nos sábados e dias de festa, costumavam sair ao ‘Terraço’ do Templo e ali ensinavam. Nesta instrução popular havia grande liberdade para fazer perguntas.
Foi nesta audiência que se sentou no solo, rodeado e mesclado com os doutores, e daí que é durante – não depois da Festa – que temos que buscar o menino Jesus (EDERSHEIM, 1989, vol.1, p. 289). A declaração de Edersheim reveste-se de certo mérito por ser judeu, convertido à fé cristã, com profundos conhecimentos da Mishná: “Sua preocupação foi sempre situar a vida e obra de Jesus no background do judaísmo” (SCHLESINGER & PORTO, 1995, vol. I, p. 902). Foi pastor protestante, tradutor e professor da Universidade de Edimburgo, Escócia. Ele afirma ser impossível determinar que classe de pergunta estava em discussão, acredita que diziam respeito à Páscoa. Realmente não é possível saber pontos específicos, mas o assunto era com respeito às coisas de Deus, pelo que se infere de sua resposta a José e Maria: “Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?” (Lc 2:49). O que chamava a atenção desses doutores e dos que presenciavam a cena era seu interesse pelas coisas de Deus em tão tenra idade, também, a sua inteligência e respostas.
Tudo isso revelava tratar-se não de uma criança precoce, mas um menino como nenhum outro. Os grandes homens de Deus tiveram consciência de sua vocação divina nessa fase da vida.
José e Maria tinham conhecimento da origem de Jesus, Deus revelou-a a ambos, contudo, ficaram perplexos com a sua resposta: “Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?” (Lc 2:49). Não compreendiam, porém, como Jesus, ainda adolescente, tinha o conhecimento perfeito de sua identidade. Essas são as primeiras palavras de Jesus registradas na Bíblia.
(LUCAS 2:40, 52)
São poucos os relatos inspirados da infância de Jesus, por isso devemos extrair deles tudo o que pudermos para uma melhor compreensão da mais bela história da humanidade. Nada se sabe da vida de Jesus depois do relato de seu nascimento até a sua manifestação pública a Israel, exceto o que Lucas escreveu. O relato de Lucas 2:40-52 quebra o silêncio desse período. Essa lacuna tem sido, ao longo da história do cristianismo, motivo de especulações, muitas vezes, nocivas à fé cristã.
Localizando os Fatos no Tempo
Somente Mateus e Lucas registraram os acontecimentos do nascimento de Jesus, esses relatos estão nos dois primeiros capítulos de Mateus e de Lucas. Muito pouco sabemos desse evento, mas sobre a infância de Jesus sabemos menos ainda, pois restringe-se a uns poucos versículos de Lucas. Quanto à cronologia, o tempo mencionado no primeiro evangelho é muito vago, pois segue o estilo do Antigo Testamento, afirma que Jesus nasceu “no tempo do rei Herodes” (Mt 2:1) e que “naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judeia” (Mt 3:1), veja Êxodo 2:11 e Isaías 38:1. Lucas foi mais preciso e devemos a ele a localização dos fatos no tempo, pois afirma que Jesus nasceu por ocasião de um censo decretado por César Augusto quando Cirênio (Quirino) era governador da Síria (Lc 2:1, 2) e o seu ministério começou no “ano quinze do império de Tibério César” (Lc 3:1). A intenção do Espírito Santo sempre foi tornar conhecido ao povo de Deus os fatos, as manifestações sobrenaturais, para ensino e edificação da igreja, não há, pois, preocupação com datas precisas. Essas datas existem porque os fatos são reais e históricos. Assim, Lucas fornece datas globais, e João deixa pista para se saber a duração do período do ministério terreno de Jesus.
Segundo os historiadores romanos Tácito e Suetônio, o período áureo de Roma do governo de Júlio César e Augusto havia terminado a partir de Tibério, que assumiu o governo depois da morte de Augusto em 14 d.C. Esse período chamado de “Período de Augusto” é reconhecido como o momento do apogeu da literatura latina, no seu governo Jesus nasceu.
Depois da morte de Augusto começa o período da Casa Júlio-Claudina, em que governaram Roma Tibério, Calígula, Cláudio e Nero, sendo Tibério e Cláudio citados nominalmente no Novo Testamento (Lc 3:1; At 11:28; 18:2). Jesus foi crucificado durante o governo de Tibério, e o período dos seus sucessores coincide com o da expansão do cristianismo. Esse período termina com a morte de Nero em 68. O governo de Tibério foi entre 14 e 37 d. C. O evangelista informa-nos, ainda, que no ano quinze, portanto, por volta do ano 29 da Era Cristã, Jesus estava com quase 30 anos (Lc 3:23), idade em que os levitas começavam seu ministério (Nm 4:47).
Devemos ao apóstolo João a informação dos três anos e meio do ministério terreno de Jesus, pois ele menciona quatro páscoas: “estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém” (2:13); “depois disso, havia uma festa entre os judeus, e Jesus subiu a Jerusalém” (5:1); “e a Páscoa, a festa dos judeus, estava próxima” (6:4); “estava próxima a Páscoa dos judeus, e muitos daquela região subiram a Jerusalém antes da Páscoa, para se purificarem... Foi, pois, Jesus seis dias antes da Páscoa a Betânia” (11:55; 12.1). Porém, há muita discussão sobre a “festa” mencionada em João 5:1, pois o texto não especifica visto que os judeus celebravam, na época, pelo menos cinco festas anuais: Festa da Páscoa (Lc 22:1), Festa do Pentecostes (At 2:1), Festa dos Tabernáculos (Jo 7:2), Festa de Purim, que só aparece no livro de Ester (Et 9:26, 28, 29, 31, 32), e a Festa da Dedicação (Jo 10:22). Assim, fica difícil saber a que festividade o apóstolo está se referindo. Considerando a festa de João 5:1 como a da Páscoa, então teremos pouco mais de três anos desde o batismo de Jesus até ao Calvário.
De Mateus infere-se que Jesus estava com cerca de dois anos de idade quando José e Maria fugiram para o Egito (2:16), esclarece-se que o retorno deles para Israel só aconteceu depois da morte de Herodes, o Grande, quando seu filho, Arquelau reinava na Judeia (2:19, 22). Segundo Josefo, historiador judeu do primeiro século da Era Cristã, Herodes morreu 37 anos depois de ter sido nomeado rei dos judeus (Antiguidades: 17.10.741), isso corresponde ao ano 749 AUC (Anno Urbis Conditae, “Ano em que a Cidade foi fundada”), referência à cidade de Roma, equivalente ao ano 4 antes da Era Cristã.¹ O referido historiador afirma, ainda, que Arquelau foi deposto no décimo ano do seu reinado (Antiguidades: 17.15.757).
O silêncio que precedeu o início da apresentação pública de Jesus é natural e não deve surpreender os cristãos, porque os evangelhos se concentram no seu ministério, mesmo assim, dá atenção especial à última semana da vida terrena de Cristo, semana da Páscoa, em que foi realizada a redenção. Os evangelhos registram a vida de Jesus, mas concentram-se no ponto principal do seu ministério: a obra do Calvário, pois o objetivo do Espírito Santo, ao inspirar esses evangelistas, foi tornar conhecida de toda humanidade como se realizou a grande e sublime obra da redenção, e não para satisfazer curiosidades. Se fosse realmente importante escrever o que aconteceu nesse período, certamente estaria registrado.
A importância da morte e ressurreição de Jesus podem ser vistas até na estatística dos quatro evangelhos: sete capítulos dos 28 de Mateus são dedicados a essa semana; cinco, dos 16 de Marcos; quatro dos 24 de Lucas e nove, dos 21 de João, num total de 25 dos 89 capítulos dos quatro evangelhos. Isso representa 28% deles dedicados à semana da crucificação e o período após a ressurreição, até à ascensão ao céu. São menos de dois meses num ministério que durou cerca de três anos e meio.
O Crescimento de Jesus
As Escrituras Sagradas apresentam diversas características humanas em Jesus...Porém, convém considerar a infância de Jesus, enfocando o seu desenvolvimento físico, intelectual e espiritual: “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens... E o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (Lc 2:40, 52).
Lucas apresenta, ainda que apenas um lampejo, o desenvolvimento físico “em estatura” (2.52), espiritual e intelectual de Jesus “e o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (2:40). Lucas é extremamente meticuloso ao relatar a vida de nosso Salvador, pois pagãos criam na metamorfose de algumas de suas divindades. Esse “fenômeno” mitológico era, segundo acreditavam, a capacidade de suas divindades assumirem formas diferentes. Ele, porém, não queria que o Mestre divino fosse associado e nem confundido com elas. Estava tratando de um evento singular na história, algo sobrenatural, pois o Deus verdadeiro, Criador do Céu e da Terra, assumiu a forma humana vindo como homem de maneira que o curto relato rechaça toda e qualquer possibilidade de associação com a mitologia pagã ou com a magia.
Era um desenvolvimento gradual físico e mental, seu crescimento espiritual na adolescência é mais uma prova de sua natureza humana. Assim, temos autoridade para falar que foi criança e precisava da proteção divina, dos cuidados maternos, e que precisou aprender a comer, a andar e a falar dentre outras coisas comuns aos humanos. Ele viveu entre nós e andou entre os homens com todas as características dos seres humanos, mas sem pecado, pois deu testemunho de uma vida impecável.
Essas informações fornecidas por Lucas, portanto, estão de acordo com todo o contexto bíblico e ajudam-nos a compreender a natureza humana de Cristo. Jesus foi levado a Jerusalém para a cerimônia de purificação (Lc 2:22). Depois disso, parece ser a sua primeira visita à Cidade Santa e ao Templo, mas não podemos ter certeza, o que sabemos é que José e Maria iam anualmente para lá (2:41). Dessa vez, o menino Jesus estava com 12 anos (Lc 2:42). A ida de Jesus a Jerusalém, nessa idade, foi um vento significativo. Há entre os judeus um ritual, celebrado ainda hoje, chamado Bar Mitzvah, cerimônia de maioridade espiritual no judaísmo, ou de passagem, em que o menino faz, pela primeira vez, a leitura pública da Torah – Lei de Moisés, depois que completa 13 anos de vida, segundo o Talmude (Aboth 5.21; Niddar 5.6).²
A expressão aramaica bar mitzvah significa “filho do mandamento”. É a maioridade espiritual, tornando-se um“filho da lei” ou “do mandamento” e membro da sinagoga. O Talmude prescreve que um ano ou dois antes de o menino completar 13 anos deve ser levado para a observância, para que possa ser preparado (Yoma 8.4). Talvez seja esse o contexto em que Lucas descreve a ida de Jesus a Jerusalém.
A Páscoa era naquela época, e é ainda hoje, a maior festa religiosa do judaísmo. Todos os adultos do sexo masculino tinham a obrigação de frequentar o Templo para a celebração das festas solenes. Quem morava numa região fora do raio de 25 quilômetros da Cidade Santa não tinha a obrigação de ir às festas religiosas judaicas, o Talmude expressamente isentava as mulheres desse compromisso (Hagigah 1.1).³ José e Maria eram religiosos dedicados e, como todo judeu devoto, por residirem na Galileia, mais de 100 quilômetros de Jerusalém, não tinham essa obrigação, contudo, todos os anos iam à Festa da Páscoa: “Ora, todos os anos, iam seus pais a Jerusalém, à Festa da Páscoa” (Lc 2:41). José e Maria não procediam de família rica, e mesmo com escassos recursos financeiros, não deixavam de ir aos cultos para adoração. Um exemplo de dedicação e amor a Deus que deve ser seguido por todos os cristãos.
A festa durava sete dias, ao final desse período, a caravana das mulheres partia de volta para suas casas com bastante antecedência, os homens seguiam posteriormente para se encontrarem com elas na parada seguinte para o pouso, à noite. “Terminados aqueles dias, ficou o menino Jesus em Jerusalém, e não o souberam seus pais” (Lc 2:43). É provável ter Maria pensado que o menino estivesse com José e vice-versa, quando descobriram que Jesus não estava na companhia deles, retornaram a Jerusalém (vv. 44, 45). Lá encontraram-no “no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os” (v. 46). Os doutores eram as autoridades religiosas de Israel, mestres da lei de Moisés, que conheciam com profundidade as Escrituras Sagradas.
Os críticos, às vezes, questionam o relato de Lucas por causa do rígido sistema da religião judaica e do ritual do templo. Como um menino teria acesso ao Templo, com toda sua estrutura e ritual, e discutir com suas autoridades assunto teológicos? O Dr. Alfred Edersheim (1825-1889) reconhece a existência desses obstáculos, porém, não concorda com a opinião desses críticos, afirma: "Porque lemos no Talmude (Sanh. 88 b)¹¹ que uma Beth há-Midrash que os membros do Sinédrio do Templo, que em dias ordinários se sentavam como Tribunal de Apelação, ao final do sacrifício da manhã ou da noite, nos sábados e dias de festa, costumavam sair ao ‘Terraço’ do Templo e ali ensinavam. Nesta instrução popular havia grande liberdade para fazer perguntas.
Foi nesta audiência que se sentou no solo, rodeado e mesclado com os doutores, e daí que é durante – não depois da Festa – que temos que buscar o menino Jesus (EDERSHEIM, 1989, vol.1, p. 289). A declaração de Edersheim reveste-se de certo mérito por ser judeu, convertido à fé cristã, com profundos conhecimentos da Mishná: “Sua preocupação foi sempre situar a vida e obra de Jesus no background do judaísmo” (SCHLESINGER & PORTO, 1995, vol. I, p. 902). Foi pastor protestante, tradutor e professor da Universidade de Edimburgo, Escócia. Ele afirma ser impossível determinar que classe de pergunta estava em discussão, acredita que diziam respeito à Páscoa. Realmente não é possível saber pontos específicos, mas o assunto era com respeito às coisas de Deus, pelo que se infere de sua resposta a José e Maria: “Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?” (Lc 2:49). O que chamava a atenção desses doutores e dos que presenciavam a cena era seu interesse pelas coisas de Deus em tão tenra idade, também, a sua inteligência e respostas.
Tudo isso revelava tratar-se não de uma criança precoce, mas um menino como nenhum outro. Os grandes homens de Deus tiveram consciência de sua vocação divina nessa fase da vida.
O Despertar da Consciência
José e Maria tinham conhecimento da origem de Jesus, Deus revelou-a a ambos, contudo, ficaram perplexos com a sua resposta: “Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?” (Lc 2:49). Não compreendiam, porém, como Jesus, ainda adolescente, tinha o conhecimento perfeito de sua identidade. Essas são as primeiras palavras de Jesus registradas na Bíblia.
Essa declaração pode revelar que não houve descuido do menino Jesus em não seguir a caravana, pois, na ocasião, foi despertado de tal maneira que estava agora absorvido em seu pensamento sobre sua identidade e missão. Ele havia se dado conta de que esta, de fato, era a casa de Deus. É possível que tudo isso tenha impulsionado de maneira irresistível de se ocupar nos negócios de seu Pai.
Depois de regressar a Nazaré, não sabemos se retornou a Jerusalém para outras festas até o dia de sua apresentação pública, para iniciar seu ministério. O grande ensino para nossos dias é, que mesmo sabendo que era o Filho de Deus, continuou submisso a José e Maria, “e era-lhes sujeito” (Lc 2:51). Essas palavras revelam, muito cedo, a manifestação de obediência ativa e passiva à vontade de Deus. Essa foi a última menção de José no Novo Testamento, nas bodas de Caná da Galileia, ele não está presente, “estava ali a mãe de Jesus” ( Jo 2:1), provavelmente já tinha morrido. Sabedor de sua origem divina e consciente de sua missão, Jesus não mudou o seu relacionamento familiar, mantendo a obediência no lar, até o dia que havia de manifestar-se a Israel.
O escritor aos Hebreus esclarece sobre a necessidade de Deus haver-se tornado homem (2:14-18), apresentando o que consideramos no texto, mas fora dos evangelhos, o que evidencia a natureza humana de Jesus: “O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia. Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu” (5:7, 8). Os “dias de sua carne” é uma referência ao período em que ele habitou entre nós, os termos “clamor, lágrimas, orações e súplicas” referem-se às passagens dos evangelhos como a ressurreição de Lázaro, o Getsêmane etc. O aprendizado, porém, diz respeito à fase que Lucas faz menção, da adolescência até ao dia sua manifestação pública. Essas coisas são evidência de um Jesus real, de um personagem histórico, de alguém que realmente existiu e cujos relatos registrados nos evangelhos são literais.
O Golpe Contra as Especulações Esotéricas
É muito comum ouvir membros de grupos religiosos isolados, de tendência esotérica, principalmente ligados à Nova Era, que a ausência dessa fase da vida de Jesus nos evangelhos acontece porque ele foi para a Índia, quando criança, para aprender dos gurus²² do hinduísmo. Dessa maneira, reduzem Jesus à categoria de mero avatar³³, negando a sua deidade absoluta. Além disso, Jesus é tido por eles como apenas um grande Iniciado e colocado lado a lado com Buda, Confúcio, Maomé etc. Há, ainda, os que defendem a teoria de um Jesus essênio.
Os essênios tornaram-se conhecidos em todo o mundo, em nossos dias, por causa das grandes descobertas dos manuscritos do mar Morto. Eles não aparecem no Novo Testamento e viviam no deserto da Judeia. Eram chamados os issiim, que em hebraico significa “os que curam”. O nome se justifica porque eles possuíam conhecimento muito avançado da medicina.
Há muitas especulações sobre Jesus e João Batista terem sido membros da comunidade dos essênios. Não há prova e nem evidência disso. Eruditos judeus, católicos e protestantes, depois de 40 anos de investigações, traduções e decifrações desses manuscritos, todos unanimemente afirmam não haver encontrado algo que vincule definitivamente ou, ainda, diretamente os essênios a Jesus. Tudo que puderam apresentar foram algumas semelhanças dos ensinos e práticas dos primeiros cristãos, além de mera possibilidade de João Batista de ter vivido em Qumran, nada mais existe além disso.¹¹¹
Foi em 1887 que um correspondente de guerra russo chamado Nicolas Notovich trouxe à tona a ficção do Jesus hindu. Notovich afirmou haver encontrado um manuscrito num mosteiro, no Tibet, que constava a história de Issa.²²²
Ele publicou, em 1894, um livro intitulado A Vida de Santo Issa, com base nesse suposto manuscrito. Segundo ele, Issa teria deixado seu país aos 13 anos para viver nas cidades da Índia e aprender as doutrinas secretas das Escrituras e que teria aprendido os Vedas com os gurus (RHODES, 1995, p. 51, 52). A verdade é que tal manuscrito nunca existiu. Isso foi descoberto no ano seguinte à publicação do referido livro. Segundo J. Archibald Douglas, professor do Government College, em Agra, Índia, não existe tal evidência histórica.
Ele esteve no mosteiro da suposta descoberta, em 1895, quando perguntou ao chefe dos monges se ele foi premiado pela descoberta, sua resposta foi: “Nunca houve o tal livro no mosteiro” (RHODES, 1995, p. 53). Isso foi confirmado, ainda, por Max Müller, historiador das religiões e filósofo alemão (1823-1900), professor da Universidade de Oxford, Londres. Ele era defensor da filosofia oriental, mas mesmo assim, considerou real e digno de crédito o testemunho de uma mulher que esteve no referido mosteiro, a qual disse: “Nunca esteve um russo aqui e nunca houve uma Vida de Cristo aqui”. Em 1926, o Dr. Edgar J. Goodspeed, professor da Universidade de Chicago, examinou a obra de Notovich e descobriu que o tal livro era muito dependente dos evangelhos e que havia muitos erros históricos (RHODES, 1995, p. 53).
Essa falácia do Jesus hindu é sem base bíblica, teológica, histórica e arqueológica. Já vimos que essa lacuna nos evangelhos deve-se ao fato de ser o propósito divino, revelado na Bíblia, a salvação da humanidade “o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo” (1 Jo 4:14). O Senhor Jesus é apresentado nos evangelhos como alguém que era natural na comunidade de seu povo, e não como um estrangeiro. Sua maneira de viver e os seus ensinos refletem a cultura judaica, e nada há que se pareça com a cultura hindu (Lc 4:22-24). Os moradores de Nazaré, admirados com o que viam, perguntaram logo: “Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, e de José, e de Judas, e de Simão? E não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele” (Mc 6: ). Ora, tal atitude do povo não se justificaria se Jesus fosse um recém chegado da Índia.
Os três países, fora de Israel, que o Senhor Jesus visitou foram Egito (Mt 2:14, 15), Líbano, as antigas cidades de Tiro e Sidom, na Fenícia (Mt 15:21) e Jordânia. Diante do exposto, damo-nos por satisfeitos com as poucas informações inspiradas disponíveis, pois são elas suficientes para a compreensão da vida de Jesus. São peças importantes na construção da verdadeira cristologia. O compromisso do cristão é com o que está escrito nas Escrituras, portanto, não devemos nos preocupar com especulações.
Depois de regressar a Nazaré, não sabemos se retornou a Jerusalém para outras festas até o dia de sua apresentação pública, para iniciar seu ministério. O grande ensino para nossos dias é, que mesmo sabendo que era o Filho de Deus, continuou submisso a José e Maria, “e era-lhes sujeito” (Lc 2:51). Essas palavras revelam, muito cedo, a manifestação de obediência ativa e passiva à vontade de Deus. Essa foi a última menção de José no Novo Testamento, nas bodas de Caná da Galileia, ele não está presente, “estava ali a mãe de Jesus” ( Jo 2:1), provavelmente já tinha morrido. Sabedor de sua origem divina e consciente de sua missão, Jesus não mudou o seu relacionamento familiar, mantendo a obediência no lar, até o dia que havia de manifestar-se a Israel.
O escritor aos Hebreus esclarece sobre a necessidade de Deus haver-se tornado homem (2:14-18), apresentando o que consideramos no texto, mas fora dos evangelhos, o que evidencia a natureza humana de Jesus: “O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia. Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu” (5:7, 8). Os “dias de sua carne” é uma referência ao período em que ele habitou entre nós, os termos “clamor, lágrimas, orações e súplicas” referem-se às passagens dos evangelhos como a ressurreição de Lázaro, o Getsêmane etc. O aprendizado, porém, diz respeito à fase que Lucas faz menção, da adolescência até ao dia sua manifestação pública. Essas coisas são evidência de um Jesus real, de um personagem histórico, de alguém que realmente existiu e cujos relatos registrados nos evangelhos são literais.
O Golpe Contra as Especulações Esotéricas
É muito comum ouvir membros de grupos religiosos isolados, de tendência esotérica, principalmente ligados à Nova Era, que a ausência dessa fase da vida de Jesus nos evangelhos acontece porque ele foi para a Índia, quando criança, para aprender dos gurus²² do hinduísmo. Dessa maneira, reduzem Jesus à categoria de mero avatar³³, negando a sua deidade absoluta. Além disso, Jesus é tido por eles como apenas um grande Iniciado e colocado lado a lado com Buda, Confúcio, Maomé etc. Há, ainda, os que defendem a teoria de um Jesus essênio.
Os essênios tornaram-se conhecidos em todo o mundo, em nossos dias, por causa das grandes descobertas dos manuscritos do mar Morto. Eles não aparecem no Novo Testamento e viviam no deserto da Judeia. Eram chamados os issiim, que em hebraico significa “os que curam”. O nome se justifica porque eles possuíam conhecimento muito avançado da medicina.
Há muitas especulações sobre Jesus e João Batista terem sido membros da comunidade dos essênios. Não há prova e nem evidência disso. Eruditos judeus, católicos e protestantes, depois de 40 anos de investigações, traduções e decifrações desses manuscritos, todos unanimemente afirmam não haver encontrado algo que vincule definitivamente ou, ainda, diretamente os essênios a Jesus. Tudo que puderam apresentar foram algumas semelhanças dos ensinos e práticas dos primeiros cristãos, além de mera possibilidade de João Batista de ter vivido em Qumran, nada mais existe além disso.¹¹¹
Foi em 1887 que um correspondente de guerra russo chamado Nicolas Notovich trouxe à tona a ficção do Jesus hindu. Notovich afirmou haver encontrado um manuscrito num mosteiro, no Tibet, que constava a história de Issa.²²²
Ele publicou, em 1894, um livro intitulado A Vida de Santo Issa, com base nesse suposto manuscrito. Segundo ele, Issa teria deixado seu país aos 13 anos para viver nas cidades da Índia e aprender as doutrinas secretas das Escrituras e que teria aprendido os Vedas com os gurus (RHODES, 1995, p. 51, 52). A verdade é que tal manuscrito nunca existiu. Isso foi descoberto no ano seguinte à publicação do referido livro. Segundo J. Archibald Douglas, professor do Government College, em Agra, Índia, não existe tal evidência histórica.
Ele esteve no mosteiro da suposta descoberta, em 1895, quando perguntou ao chefe dos monges se ele foi premiado pela descoberta, sua resposta foi: “Nunca houve o tal livro no mosteiro” (RHODES, 1995, p. 53). Isso foi confirmado, ainda, por Max Müller, historiador das religiões e filósofo alemão (1823-1900), professor da Universidade de Oxford, Londres. Ele era defensor da filosofia oriental, mas mesmo assim, considerou real e digno de crédito o testemunho de uma mulher que esteve no referido mosteiro, a qual disse: “Nunca esteve um russo aqui e nunca houve uma Vida de Cristo aqui”. Em 1926, o Dr. Edgar J. Goodspeed, professor da Universidade de Chicago, examinou a obra de Notovich e descobriu que o tal livro era muito dependente dos evangelhos e que havia muitos erros históricos (RHODES, 1995, p. 53).
Essa falácia do Jesus hindu é sem base bíblica, teológica, histórica e arqueológica. Já vimos que essa lacuna nos evangelhos deve-se ao fato de ser o propósito divino, revelado na Bíblia, a salvação da humanidade “o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo” (1 Jo 4:14). O Senhor Jesus é apresentado nos evangelhos como alguém que era natural na comunidade de seu povo, e não como um estrangeiro. Sua maneira de viver e os seus ensinos refletem a cultura judaica, e nada há que se pareça com a cultura hindu (Lc 4:22-24). Os moradores de Nazaré, admirados com o que viam, perguntaram logo: “Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, e de José, e de Judas, e de Simão? E não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele” (Mc 6: ). Ora, tal atitude do povo não se justificaria se Jesus fosse um recém chegado da Índia.
Os três países, fora de Israel, que o Senhor Jesus visitou foram Egito (Mt 2:14, 15), Líbano, as antigas cidades de Tiro e Sidom, na Fenícia (Mt 15:21) e Jordânia. Diante do exposto, damo-nos por satisfeitos com as poucas informações inspiradas disponíveis, pois são elas suficientes para a compreensão da vida de Jesus. São peças importantes na construção da verdadeira cristologia. O compromisso do cristão é com o que está escrito nas Escrituras, portanto, não devemos nos preocupar com especulações.
Fonte:
SOARES, Esequias. Cristologia: A Doutrina de Jesus Cristo. 1ª Ed. São
Paulo: Hagnos, 2008.
¹O calendário cristão foi organizado pelo abade Dionísio Exiguus, em 525, que fixou o ano 753
AUC como o ano 1 da Era Cristã, sendo que Jesus nasceu em 749 AUC, por isso o nosso calendário
está atrasado quatro anos.
²O Talmude, literatura religiosa dos judeus, divide-se em duas partes: Mishná e Guemará. A
Mishná é o comentário das Escrituras (Antigo Testamento), dividida em seis ordens, essas em 63
tratados; esses, em capítulos, no total de 525 e cada capítulo, em sessões. O Pirkey Aboth
(pronuncia-se avôth) e o Niddar são tratados.
³Hagigah é um tratado do Talmude.
¹¹Sanh é a forma abreviada de Sanhedrim, um tratado do Talmude.
²²Guru é um mestre no hinduísmo, uma manifestação de Brâman, “todos os deuses em um”,
diferente de Brama, o criador, o primeiro deus do trimurti hindu: Brama, Vishnu e Shivá. Cada
hindu deve seguir um guru para alcançar a auto-realização.
³³Avatar é no hinduísmo a encarnação de Vishnu, os hindus acreditam que essa divindade já se
encarnou várias vezes. Cada grupo afirma ter seu próprio avatar.
¹¹¹Esses eruditos publicaram diversos artigos nas revistas acadêmicas dos Estados Unidos e
Europa. Hershel Shanks, um deles, organizou esses artigos e publicou em forma de livro, lançado no
Brasil pela Imago Editora, Rio de Janeiro, em 1993, intitulado: Para Compreender os Manuscritos do
Mar Morto.
²²²Esses eruditos publicaram diversos artigos nas revistas acadêmicas dos Estados Unidos e
Europa. Hershel Shanks, um deles, organizou esses artigos e publicou em forma de livro, lançado no
Brasil pela Imago Editora, Rio de Janeiro, em 1993, intitulado: Para Compreender os Manuscritos do Mar Morto.
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